Senha não é mantra, nem depoimento
Tentar “123456” e ou algumas traduções de “password” ainda funciona para acessar dezenas de milhões de contas, de diversos serviços, em todo o mundo. É um risco banal, facilmente resolvido nos sistemas de credenciamento. O comportamento inseguro fica mais complicado quando o usuário faz do campo de senhas um depoimento pessoal.
As advertências sobre uso de dados naturalmente expostos, como o próprio aniversário, já são bem conhecidas. Mas nem sempre as pessoas lembram que outras referências são fáceis de se obter ou deduzir. Particularmente em tempos de tensão na vida pessoal e no entorno, é sempre interessante uma revisão de comportamento, para que ninguém se fragilize de forma inconsciente e desnecessária. Os atacantes conhecem os mecanismos da mente e do coração.
As vulnerabilidades comportamentais são a parte mais complexa da cibersegurança; envolvem muitas variáveis, algumas das quais dificilmente previsíveis. Mas alguns perfis típicos ilustram algumas falhas comuns e bastante exploradas pelos fraudadores:
Pensamento mágico – a oração, ou qualquer outra crença transcendental podem fazer muito bem. O que não pode é expor seus apelos por “Sucesso” ou “Saúde” no campo de senha. Ou então, as “dádivas” serão todas para o atacante.
Quer contar para todo mundo – não satisfeito em inundar as redes sociais com “(seu time do coração)”, o torcedor não esquece seu fanatismo na hora de configurar a senha e entrega o jogo…
Sweet home in office – nome ou aniversário dos filhos, referências a familiares e outras coisas de alto valor afetivo são impossíveis de esquecer. Mas não deve usar seus dados pessoais, inclusive para o próprio bem deles
Panelaço no login – “VacinaJá! ”, “Fora (nome do político)!” aparecem nas listas de redes Wi-Fi domésticas, como se o usuário quisesse se manifestar para os vizinhos ou os celulares próximos. Na hora de configurar a senha, que é feita para ser secreta, o usuário quer fazer manifestação pública no pior contexto possível.
O erudito – a senha “s=Akc^3/4hG” pode parecer impecável. Mas se alguém vir um retrato ou a estante cheia de livros do Stephen Hawking, vai tentar usar a equação mais famosa do físico para obter o acesso. Reverências a personagens, datas históricas ou obras literárias devem ficar para posts, artigos, aulas ou conversas.
Você concorda?
Kemily Boff
Especialista em programas de conscientização em segurança da informação
CYLK Technologing
Enfim, todos estes exemplos irônicos, que citei acima, estão longe de ser deboche. É natural e produtivo ir estabelecendo padrões ao longo da vida, o que nos torna coerentes e, até certo ponto, previsíveis. Isso é bom na maioria das situações. A hora de configurar a senha, no entanto, é o pior momento para ser você mesmo.